Entenda o que condenou o acordo de Musk e Twitter ao fracasso

Analistas especularam que a briga foi uma tentativa de Musk de criar um pretexto para sair de um acordo que agora parecia superfaturado.

Quando Elon Musk anunciou sua intenção de comprar o Twitter há quase 90 dias, o mundo – e os mercados financeiros – pareciam diferentes.

O S&P 500 estava 14% mais alto e ainda não havia entrado em um mercado em baixa.

A guerra na Ucrânia e as preocupações com a inflação empurraram os investidores para o modo de venda, mas sentimentos positivos não tinham desmoronado. E a Tesla, a fabricante de carros elétricos que é a principal fonte da riqueza de Musk, estava prestes a anunciar lucros recordes.

O humor de Wall Street e da América Corporativa mudou desde então. As ações dos EUA encerraram seu pior início de ano desde 1970. A Tesla começou a demitir trabalhadores depois que Musk indicou que tinha um “super mau pressentimento” sobre a economia. A segunda metade do ano parece incerta — na melhor das hipóteses.

Nesse clima, a oferta de Musk de pagar US$ 44 bilhões pelo Twitter, arrecadando as ações que ele não possui por US$ 54,20 cada, parece muito alta – e agora, sem nenhuma surpresa, ele quer sair.

“O mercado mudou drasticamente desde abril”, disse Daniel Ives, estrategista da Wedbush Securities.

Musk tomou medidas na sexta-feira (8) para encerrar seu acordo de compra do Twitter, alegando que a empresa está “violando materialmente várias disposições” do acordo original.

Durante semanas, Musk expressou preocupação, sem nenhuma evidência aparente, de que há um número maior de bots e contas de spam na plataforma do que o Twitter disse publicamente.

Analistas especularam que a briga foi uma tentativa de criar um pretexto para sair de um acordo que agora parecia superfaturado.

A oferta de Musk representou um prêmio de 54% sobre o preço do Twitter antes de Musk começar a aumentar sua participação no final de janeiro, e um prêmio de 38% antes de suas participações serem reveladas em abril.

No início de julho, as ações do Twitter estavam sendo negociadas a apenas US$ 38,23, uma queda de quase 12% desde o início do ano e quase 30% abaixo do preço de oferta de Musk.

Os investidores estão abandonando as ações de tecnologia em rápido crescimento – que são menos atraentes quando as taxas de juros estão subindo – e as empresas de mídia social foram duramente atingidas.

A Meta do Facebook viu suas ações caírem quase 50% no acumulado do ano. O Snapchat é 68% menor.

Depois, há as ações da Tesla, nas quais Musk planejava confiar em parte para financiar o negócio. Também caiu acentuadamente, caindo 30% desde o início de abril.

“O fiasco do Twitter teve um grande impacto nas ações da Tesla e esse é o filho de ouro de Musk”, disse Ives.

Musk não está chamando seu remorso de comprador inconstante. Mas Ives acha claro que isso foi um fator importante.

O palco está montado para uma longa e dramática batalha legal. O Twitter disse que pretende forçar Musk a fechar a venda – e não é difícil entender o porquê.

As ações do Twitter caíram mais de 5% nas negociações de pré-mercado nesta segunda-feira (11). Com a aquisição empatada no tribunal, Ives acha que pode cair mais 30%, para US$ 25.