Nuvem de gafanhotos está a 130 km do Brasil e do Uruguai, diz governo da Argentina

Segundo estudo do país vizinho, insetos podem se deslocar cerca de 150 km por dia, porém não é possível afirmar que essa distância vai ser percorrida nesta quarta-feira. Governo brasileiro prepara uso de aviões para possível controle dos gafanhotos.

A nuvem de gafanhotos que avança pela Argentina está a 130 km em linha reta do município brasileiro de Barra do Quaraí, no oeste do Rio Grande do Sul, de acordo com o último levantamento do governo argentino nesta quarta-feira (24). Para meteorologistas, a chegada vai depender da condição climática no Sul nos próximos dias (veja mais abaixo).

Segundo Héctor Medina, chefe do serviço de monitoramento do país vizinho, a nuvem também está a mesma distância da cidade de Bella Unión, no Uruguai, para onde os especialistas acreditam que os insetos vão migrar, segundo o Ministério da Agricultura brasileiro.

O governo do Brasil já estuda o uso de mais de 400 aviões agrícolas para controle dos insetos, caso cheguem ao país (leia mais abaixo). A recomendação é que o combate aos gafanhotos seja feito pelas autoridades.

Hector Emilio Medina @MedinaHectorE · 3h

#AlertaLangosta

La manga se encuentra en cercanías de Sauce, Corrientes . Equipo de @SenasaAR y la provincia están en búsqueda de su ubicación precisa. Neblina y bajas temperaturas dificultan la tarea.#langostas #gafanhotos #Manga #locustswarm @GlobalLocust @LocustCirad

View image on Twitter

Hector Emilio Medina @MedinaHectorE

La manga avanzó ayer hacia el sur, se encuentra a:

15 – 20 km de Entre Ríos
130 km aprox. (en línea recta) Barra el Quarai
130 km aprox. (en línea recta) de Bella Unión

https://geonode.senasa.gov.ar/maps/1806

1512:26 PM – Jun 24, 2020Twitter Ads info and privacySee Hector Emilio Medina ‘s other Tweets

De acordo com o governo argentino, essa espécie de gafanhoto é uma praga migratória, “que não reconhece limites ou fronteiras e, em um dia, pode viajar até 150 quilômetros e, por exemplo, atravessar de uma província para outra, ou mesmo de um país para outro em poucas horas”.

Porém, o comportamento do inseto não é contínuo, não sendo possível afirmar que a nuvem vá atravessar a fronteira ainda nesta quarta-feira.

Clima pode determinar chegada

Segundo a Somar Meteorologia, a faixa Oeste do Rio Grande do Sul está em atenção, mas a chance de grandes estragos é baixa devido à mudança de tempo prevista para acontecer nos próximos dias.

Isso porque os insetos preferem tempos secos e quentes, e com a previsão de chuva entre esta quarta e quinta-feira, eles não devem chegar em grande número ao estado. “Se permanecêssemos com ventos de norte e tempo seco por mais dias, poderia chegar”, informa a Somar.

Existe um risco menor da nuvem chegar ao oeste de Santa Catarina, porém, a avaliação de especialistas ouvidos pelo G1 é de que apenas uma mudança drástica na condição dos ventos na Argentina poderia fazer com os insetos cheguem ao estado.

Brasil prepara uso de aviões

Nuvem de gafanhotos causa prejuízos na Argentina e pode estar a caminho do Brasil

Nuvem de gafanhotos causa prejuízos na Argentina e pode estar a caminho do Brasil

O governo brasileiro já estuda medidas para controlar os insetos, caso cheguem ao país. O sindicato que representa as empresas de aviação agrícola (Sindag) colocou à disposição do Ministério da Agricultura os 426 aviões pulverizadores que o Rio Grande do Sul possui.

“A aviação agrícola é considerada mundialmente uma das principais armas no combate a nuvens de gafanhotos”, disse em nota o diretor-executivo do Sindag, Gabriel Colle.

Especialistas alertam que o controle do inseto deve ser feito e orientado pelas autoridades do país, no caso o Ministério da Agricultura.

Movimentação da nuvem de gafanhotos — Foto: Guilherme Pinheiro/G1

Movimentação da nuvem de gafanhotos — Foto: Guilherme Pinheiro/G1

Segundo a entidade, a ferramenta é utilizada nesse tipo de operação inclusive em ações da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) na África.

“Não por acaso, foi determinante para o surgimento do setor no Brasil, em 1947, no Rio Grande do Sul. O primeiro voo agrícola brasileiro foi em 19 de agosto daquele ano, contra gafanhotos que dizimavam lavouras na região de Pelotas.”

O Brasil possui a segunda maior frota de aviação agrícola do mundo, com 2.280 aeronaves.

Alerta no Sul

O ministério pediu que a Superintendências Federais de Agricultura e aos órgãos estaduais de Defesa Agropecuária para que realizem o monitoramento das lavouras e orientem os agricultores, principalmente os do Rio Grande do Sul, a adotarem eventuais medidas de controle da praga, caso a nuvem chegue ao Brasil.

Nuvem de gafanhotos ataca lavouras na Argentina — Foto: Divulgação/Governo da Província de Córdoba

Nuvem de gafanhotos ataca lavouras na Argentina — Foto: Divulgação/Governo da Província de Córdoba

A Emater do Rio Grande do Sul também orientou os produtores da Fronteira Oeste do estado.

“As autoridades fitossanitárias brasileiras encontram-se em permanente contato com as autoridades argentinas, bolivianas e paraguaias, por meio do Grupo Técnico de Gafanhotos do Comitê de Sanidade Vegetal (Cosave)”, reforçou o Ministério da Agricultura, em nota divulgada nesta terça-feira (23).

Praga pouco conhecida

Segundo um relatório do Ministério da Agricultura da Argentina, a espécie de gafanhoto que avança na América do Sul, chamada Schistocerca cancellata, causou danos severos à produção do país nos anos 1960 e é considerada uma “praga pouco conhecida”.

Novos ataques do inseto voltaram a ser relatados no país vizinho somente em 2015 e se repetiram em 2017 e 2019. Os argentinos afirmam que o inseto não traz nenhum risco aos humanos e nem é vetor de doenças.

Nuvem de gafanhotos ameaça lavouras no sul do país — Foto: Reprodução

Nuvem de gafanhotos ameaça lavouras no sul do país — Foto: Reprodução

De acordo o Ministério da Agricultura do Brasil, esses gafanhotos estão no país desde o século 19 e causaram grandes perdas às lavouras de arroz na região Sul do país nas décadas de 1930 e 1940. Mas as nuvens não se formam desde então.